"Após a alta hospitalar, cabe a família estimular a mãe a amamentar exclusivamente até os seis meses, e continuar amamentando até os dois anos ou mais."
Esta frase encontra-se estampada em uma das diversas publicações do Ministério da Saúde para promoção do aleitamento materno. Entretanto, na prática a maioria das mães se sente só diante do desafio de amamentar.
"Achei que quando meu bebê nascesse me sentiria feliz e completa, mas a realidade foi muito diferente disso. Mal pude olhar a carinha dele após o parto e ficamos terríveis 12h separados. Quando ele finalmente veio para os meus braços já tinha tomado mais de 04 mamadeiras de complemento e não quis pegar o peito. Me senti inútil, amputada, traída. Meu bebê não precisava de mim nem para comer. Mas o pior de tudo foi ouvir de minha família que o importante era que ele estivesse alimentado. Ali eu soube que estava só." - Relato de S. 27 anos, casada, mãe de E. nascido a termo e sem complicações no pós-parto que justificassem seu afastamento da mãe.
Os pais, os sogros, os amigos, e até seu companheiro, todos cobram que esta mulher dê conta do estresse físico e da pressão psicológica do amamentar.
"Ela é exagerada, deve ser a tal da depressão pós-parto que todo mundo fala. Não sei pra que tanto alarde se o menino ta bem. Quem vê ela assim até pensa que ele ta morrendo. Por favor, é só uma mamadeira! Eu não mamei no peito e to aqui até hoje." -Relato do Marido de S.
Relatos como este são, infelizmente, cada vez mais comuns e a sensação de desamparo somada a ansiedade são inimigas vorazes da amamentação.
"A secreção do leite é o resultado de um delicado mecanismo fisiológico que sofre a influência de vários fatores, inclusive externos. Por essa razão, as condições psicológicas da mãe e as condições do ambiente em que ela amamenta são fundamentais para uma boa amamentação. Mas dentre os fatores que interferem neste processo, talvez o mais importante seja poder contar com uma rede de apoio - incentivo é vital para que a mãe nutriz se sinta segura e confiante para amamentar." - Dr Anselmo Martins - Pediatra.
Amparo, acolhimento e compreensão são importantíssimos para a que a mulher que está amamentando se sinta confiante, mas é preciso associar estes fatores à informação de qualidade.
"Quando estava grávida pesquisei bastante, li muito, de livros a textos na internet, mas quanto mais eu lia mais eu ficava confusa. É difícil saber o que funciona e o que não funciona. Meu obstetra me ajudou muito a fazer um filtro e descartar as informações inúteis. Graças a ele encontrei minha doula, escapei da bucha e de outras tantas recomendações ultrapassadas com que esbarrei em minhas pesquisas. Depois que meu bebê nasceu continuei contando com o apoio da minha doula e da pediatra se tornaram esse filtro e graças ao apoio delas consegui amamentar meu bebê até hoje." - Relato de Claudia, mãe da lactante Isadora de 19 meses.
Para nossa felicidade há espalhados pelo Brasil afora e no restante do mundo inteiro, profissionais e grupos de apoio ao aleitamento materno, presenciais ou virtuais, que se dedicam a fazer com que a mulher que amamenta ou que está querendo amamentar tenha onde buscar este suporte. Um belo exemplo de sucesso é o da ONG Amigas do Peito.
"Há quase dois anos a Sofia nasceu, num parto intenso em que nós duas trabalhamos muito. E assim que nos vimos como duas, ela escalou até o peito e ali se instalou por um momento na nossa primeira experiência de amamentação. Eu não tinha me colocado questões sobre isso - assim como o parto, mamar seria natural. Mas foi um difícil começo. Febres, feridas, choros. Tive a sorte de ter ao meu lado desde o comecinho, a Amiga do Peito Claudia Orthof, tia da Sofia. Ela me acompanhou e me encorajou nos primeiros tempos em que tudo é tão duro: cansaço, inexperiência, insegurança, solidão.
Acho que a doação sem medida que a mãe faz ao bebê é traduzida na amamentação. E acho que para doar esse tanto a gente precisa receber apoio e carinho. Aos poucos, tudo foi se acertando e as mamadas tomaram os dias e as noites, às vezes prazerosas, às vezes sonolentas, às vezes cansadas, às vezes emocionantes. Em todo esse percurso foi fundamental acompanhar as mães de mesma viagem, umas já à frente, outras atrás, nos grupos das Amigas do Peito. Nas reuniões, a gente se vê nas outras e se sente comum, forte, frágil, boba, corajosa, no meio daquele círculo de cadeiras, de mulheres e de bebês." - Depoimento de Bia Pacheco no site Amigas do Peito - ago/2005.
No famoso site de relacionamento Facebook há bem mais de 20 grupos fechados só em português que tem o aleitamento materno como tema. São mulheres que trocam experiências, dão dicas ou simplesmente dividem com os demais membros suas angústias, seus sucessos e até seus fracassos. Alguns desses grupos são coordenados por consultores ou grupos de apoio à amamentação e podem contar ainda com uma orientação mais técnica, mas o grande diferencial é não se sentir só.
"Sempre achei que minha mulher amamentaria nosso bebê normalmente, mas não contava com um revés - nossa família. Minha mãe, a mãe dela, nossas irmãs, primas e até parentes com quem nem temos assim tanta intimidade, se sentiam no direito de dar palpite. E o mais curioso é que nunca tinham nada de bom pra dizer. O isolamento era grande. Nosso bebê era o reflexo de nossa angústia, mas na época, por um tempo, acreditamos que ele chorava muito porque tinha fome. Até demos complemento por um tempo, mas não agüentava ver o olhar de dor da Mari quando eu vinha com a mamadeira. Sabia que aquilo estava matando ela por dentro, e no fundo matava a mim também. Procurei então a ajuda de uma consultora de amamentação que nos ajudou a ter segurança, a saber o que fazer, mas ainda sentia falta de algo. Foi quando encontrei um grupo na internet. A maioria eram mães, mas eu não me sentia isolado porque nosso objetivo era o mesmo. Fui muito bem recebido e incentivei a Mari a participar e foi ai que ela percebeu que o comportamento do nosso pequeno não era incomum e que não nos faltava leite, mas experiência e tranqüilidade. Nossa consultora foi nossa fada madrinha, mas a internet foi a família que o sangue não nos deu." - Relato do João pai do Breno, nascido em outubro de 2009, marido da nutriz e gestante Marilene que até hoje amamenta feliz.
O suporte para a mãe que amamenta é tão vital quanto o leite que ela oferece ao seu bebê. Informe-se, pesquise, cerque-se de profissionais que dividam com você os mesmos valores em relação à amamentação, participe de grupos de mães. E se você não está dando o peito, faça sua parte: dê apoio!
Até a próxima!
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