Você sempre sonhou em amamentar seu bebê e faria qualquer coisa para que isso acontecesse, certo? Mas e se algo sair errado?
Eu não tenho dúvidas de que toda mãe mentalmente saudável faria de tudo para ver seu bebê bem, mas é exatamente neste ponto que minha pergunta se encaixa.
Muitas mulheres imaginam que amamentar é algo instintivo. E embora seja verdade que o bebê nasce com instinto para sugar, também é verdade que ele não faz idéia do que fazer com isso, o que significa que você precisará ensiná-lo a utilizar este instinto para obter alimento. Mas e quem ensina a você o que fazer? Na maioria das vezes, ninguém.
A seguir, vamos pensar um pouco sobre um dos casos mais comuns nos primeiros dias do pós-parto - talvez isso ajude você a entender o quanto a amamentação exige atenção.
Seu bebê nasce com 2920kg sai do hospital em seus braços pesando 2650kg. Lembrando que os bebês perdem em média 10% do seu peso corporal nos primeiros dias após o nascimento, esse é um bebê bastante normal.
Bem, você vai pra casa feliz e segue a risca a orientação de amamentação sob livre demanda do Neonatologista. Após 3 dias do nascimento suas mamas parecem dois blocos de concreto, vazam como torneira quebrada e seu pequeno mama de hora em hora, inclusive a noite. Algo te parece estranho neste relato? Não, né?! Eu mesma já ouvi centenas de mães com essa mesma história...
A crise começa uma semana depois do nascimento, quando você vai ao consultório fazer a primeira consulta do bebê e se depara com uma surpresa - seu bebê continua perdendo peso. E embora a Sociedade Brasileira de Pediatria oriente que na primeira consulta ao pediatra a importância do aleitamento materno deva ser reforçado (vide manual da SBP), a maioria dos pediatras, diante desta constatação fará a temida prescrição do complemento.
Você vai pra casa e começa a saga: peito + mamadeira e logo seu peito quase não tem mais leite (não porque você tenha algum problema físico, mas simplesmente porque seu bebê está sugando menos) e seu bebê se debate recusando a mama. E logo você que tanto sonhou com a amamentação agora se vê diante de um dilema, porque se de um lado há o conhecimento de que amamentar é importante para a saúde e desenvolvimento de seu bebê e para a relação de vocês, de outro você não quer comprometer o crescimento de seu pequeno (a).
Normalmente leva cerca de 40 dias para que a mãe procure a ajuda de um especialista em amamentação querendo que seu bebê volte para o peito. Como ele (a) já tem quase 02 meses o processo pode ser longo e não há como garantir quando vá funcionar e nem tampouco há fórmula mágica para isso - de fato o manejo clínico da amamentação é uma ciência que exige individualização, isto é, para cada dupla mãe/bebê é de um jeito.
Seja qual for a técnica que funcionará com você, no fim do processo agente quase sempre esbarrará em um probleminha - como acreditar que meu bebê não voltará a perder peso se sair da fórmula? E a resposta é sempre a mesma... removendo a fórmula. Mas acreditar ou não, não é o problema absoluto. O que realmente atrapalha, a raíz da questão está num fato - a secreção do leite é o resultado de um delicado mecanismo fisiológico que sofre a influência de vários fatores, inclusive externos, ou seja, as condições emocionais da mãe são fundamentais para que seu bebê possa extrair o leite que você produz - ansiedade e excesso de preocupações podem inibir os reflexos elaborador e propulsor do leite nas glândulas mamárias. Sem falar das condições do ambiente em que ela amamenta. O que significa que se a mãe não acreditar que seu leite é capaz de sustentar seu bebê, a ansiedade produzida pela retirada da fórmula faz com que a ejeção do leite diminua e o bebê fique com fome. Como resolver esse dilema? Auto-confiança e tranquilidade ajudam bastante, assim como o apoio da família e de um profissional especializado.
Embora seja comum, o fato do bebê mamar de hora em hora não é normal e pode atrapalhar o ganho de peso. Isso porque ao mamar assim com tanta frequência o bebê tende a extrair apenas o leite anterior (rico em açúcar, água e sais minerais, responsável por hidratar o bebê) deixando para traz o leite posterior (rico em gorduras e responsável por engordar o bebê). Isso sem falar na quantidade de calorias que ele gasta mamando assim com tanta frequência - o normal são de 8 a 10 mamadas/dia, mas de hora em hora o bebê chega a mamar 24 vezes/dia. Como resultado suas mamas ficarão inchadas e doloridas e seu bebê, embora hidratado, logo sentirá fome novamente.
Uma fala antiga carrega bastante sabedoria "dormir engorda", e de fato o bebê precisa dormir não só para ganhar peso, mas igualmente para "armazenar" as informações que aprendeu. E nos 02 primeiros meses de vida o bebê dorme muito (de 18h a 22h nas primeiras semanas, reduzindo este tempo conforme o bebê cresce), ou pelo menos deveria!
Perceba que não é uma, mas um somatório de fatores que podem explicar a falta de ganho de peso do bebê do caso acima. É claro que há casos e casos e que não se pode dizer que todas as mães cujos bebês não ganharam peso nas primeiras semanas tiveram os mesmos problemas, mas é preciso entender cada caso antes de partir para a solução do problema.
O fato é que a amamentação talvez seja uma das maiores fontes de crise nas primeiras semanas do pós-parto. Isso porque seu bebê e você ainda estão se adaptando um ao outro e até que esta adaptação esteja estabelecida e consequentemente a amamentação, é preciso ser paciente, persistente e, sobretudo, é preciso ter apoio.
Aqui vão algumas dicas valiosas para minimizar os problemas nesta fase de adaptação:
- Informe-se antes de seu bebê nascer - faça um curso de primeiros cuidados, leia livros de autores especialistas, participe de grupos de apoio;
- Procure um (a) pediatra para seu bebê antes dele (a) chegar e certifique-se de que a conduta deste profissional em relação ao aleitamento condiz com o que a OMS recomenda e com o que você busca - é importante se sentir acolhida, apoiada e segura, afinal ele (a) vai cuidar de seu bebê por muito tempo;
- A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que a primeira consulta seja feita no 15o dia de vida do bebê - dê esse tempo a vocês para se adaptarem um ao outro;
- Sempre que for as consultas relate ao seu pediatra TUDO o que está acontecendo - se seu pediatra souber que seu bebê não está dormindo e não está mamando como deveria provavelmente vai te dar orientação e não a prescrição de uma fórmula;
- Se os problemas na amamentação persistirem por mais de 01 semana, procure um consultor em amamentação - quanto mais cedo o apoio especializado chegar, mais rápido a solução aparece.
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