A obstetra Déborah Klimke publicou em seu blog um texto sobre a dor do parto que nos faz refletir... boa leitura
Ultimamente, tenho visto e lido muita coisa sobre a dor. A famosa e tão temida “dor do parto”. E resolvi registrar algo sobre isso e o que ela tem significado para mim.
Acho que, ao passar do tempo, tenho cada vez mais olhado-a com outros olhos. A palavra dor (me refiro a do parto) tem tomado outra dimensão e adquirido novas nomenclaturas para mim. Claro, não vou dizer que não tenho medo e que ela não vai existir, mas ao menos tenho desenvolvido uma maior afinidade com ela.
Normalmente, quando sentimos dor ela está automaticamente associada a algum problema, deficiência do nosso corpo, reação a doenças ou a um acidente. Tudo isso remete a algo ruim, sofrível que, não remediado, pode piorar ou progredir para um problema maior.
A dor do parto é “contraditória”- no bom sentido. Ela é quem faz todo o trabalho pela mulher (pois as contrações são responsáveis por abrir espaço para o bebê passar). Ela remete a PROGRESSO. Ela quem vai nos aproximar cada vez mais do (a) nosso (a) filhinho(a). Ou seja, diferente da dor da doença, esta “dor” só vai culminar em algo bom, gratificante e transcendental – como várias mulheres dizem – que é o momento do nascimento do bebê. Então, como li em algum lugar, se esta dor é inevitável, devemos torná-la nossa aliada. É saber que aquilo é algo positivo e que, enfim, não trará uma lembrança triste ou ruim e sim o maior dos eventos universalmente: a chegada de uma vida.
Lembro de uma senhora que conheci que falou: “Eu tive quatro filhos. Os três primeiros normais e o último cesárea. Mas eu nunca sofri e senti taaaaaanta dor na vida como na recuperação da cesárea!”Incrível não, como uma pessoa que conseguiu suportar a “dor” de três partos normais, achou a recuperação de uma única cirurgia pior do que as experiências anteriores?!
No mais, acima, escrevi dor com aspas mesmo, porque além de achar injusto chamar as contrações do nascimento de dor, há ainda uma outra questão: a generalização dela! É sábio que cada pessoa, cada mulher tem uma tolerância diferente à dor. Cada um tem sua própria e cada um a suporta diferentemente. Então não existe uma maneira de mensurar ou qualificar sua dor como sendo a minha. E na do parto algumas agüentam até o fim sem um pingo de anestesia e outras não conseguem nem o começo.
O que me intriga é não tentar. É fazer um monstro e toda uma definição prévia, sem nunca ter experimentado. É o caso da mãe de uma amiga. Diz ela que a mãe fez quatro cesarianas por puro medo da dor. Mas como ela deduziu como seria?? Antes o caso de uma outra amiga que chegou a sentir o começo do trabalho de parto, teve 4 centímetros de dilatação, mas acabou pedindo a cesárea. Pelo menos ela tentou. E conheceu as suas contrações. Mas mesmo isso é delicado falar, pois cada gestação é um mundo diferente, são reações diferentes, sintomas diversos.
Bom, o que sei é que a cada dia quero mais experimentar esta dor. Quero passar pelo processo. E quero ver o progresso por meio dela. A dor do parto me é desconhecida. Muitos me chamam de corajosa, outros perguntam se sou louca (com ênfase: “Tu é dooooida??”), outros disseram que admiram. Mas o que quero mesmo é dizer: eu senti, eu sei, eu conheci! E no final de tudo, triunfalmente: “Eu suportei”!
Nenhum comentário:
Postar um comentário