Uma homenagem à mulher-mãe!

"E num dia de bendita magia, numa explosão de luz e flor, num parto sadio e sem dor, é capaz, bem capaz, que uma mulher da minha terra consiga parir a paz. Benditas mulheres." Rose Busko

Acompanhante de parto é um direito irrevogável

Que estamos vivendo tempos difíceis, todos sabemos. Mas nem a pandemia não é argumento forte o suficiente para que se negue à gestantes o direito a um acompanhante, garantido pela Lei Federal nº 11.108/2005.

A Rede pela Humanização do Parto e Nascimento - ReHuNa - publicou ontem um texto justamente sobre esse tema. Segundo eles, embora a restrição a presença do acompanhante e da doula sejam medidas que receberam respaldo de algumas sociedades científicas e gestores municipais de saúde, esta não é uma posição universal.
"A pandemia de coronavírus claramente representa uma ameaça séria à saúde pública, e por isso mesmo tem sido utilizada como justificativa para a suspensão do direito ao acompanhante no parto. Todavia, mesmo em contexto de extrema gravidade e emergência, a suspensão de direitos deve obedecer a alguns princípios; e certos direitos não podem ser suspensos, em qualquer circunstância"
Se você foi informada que terá seu direito a acompanhante negado, procure o Tribunal de Justiça e exija cumprimento da lei. Esse tipo de restrição viola seus direitos legais e não encontra respaldo das autoridades públicas e sanitárias.



A chegada da Nina - Por Ana Mel Castro

Minha pequena flor chegou no início da primavera. Veio abrir o mês de outubro, nosso mês, numa madrugada intensa e veloz.

Na minha experiência anterior, fui pega de surpresa por uma bolsa rompida às 36 semanas de gestação. Não tinha dado tempo de me sentir exausta de estar grávida, não tinha dado tempo de ficar ansiosa com o parto e nem muito menos de ter bolsa de maternidade pronta.

Dessa vez, bolsa de maternidade mais do que pronta um bom tempo antes. Cansaço em dia, com dores bem incômodas da reta final. Ansiedade apontando, e a tentativa de viver um dia de cada vez e entregar a Deus tudo em relação a vinda da minha menina. Quase sem querer, até as unhas eu acabei fazendo, no próprio dia, sem o menor planejamento. Fillipe conseguiu fazer uma reunião importante, que na verdade seria na sexta e ele achou prudente adiantar (mesmo sem sala disponível pra reunir mais de vinte pessoas). Tudo de encaixando perfeitamente, sem que a gente soubesse. 

Se por um lado optar por deixar que uma criança escolha a data de chegar nesse mundo nos deixa ansiosos (justo nós, essa geração extremante imediatista, deixando a vida acontecer), ela também põe cada coisa em seu lugar. Experimentar a chegada sem previsão certa de uma criança, nos relembra: não temos controle. Não sabemos de nada. Precisamos focar no aqui e agora e entregar o resto.

Quantas lições profundas! 
Taí uma bela forma de meditar: parir.

Era uma segunda feira, e fui dormir por volta de meia-noite. (Devia ter ido mais cedo, rs). Faltavam 10min pras 2h da manhã e eu tinha levantado pra fazer o primeiro xixi da madrugada. (Quem tá no fim de uma gravidez sabe que o xixi passa a ser quase que de hora em hora). Pois bem. Lá fui eu, no automático. Dei uma olhada no papel higiênico pq podia vir algo diferente. Mas não veio. Ok. Voltei pra cama, e assim que deitei senti algo escorrer. Muito pouquinho. "Fiz xixi na cama?', pensei. Haha. (Se você nunca viu um relato de parto e tá achando esse texto muito esquisito, pode ficar à vontade pra parar de ler aqui mesmo) 😄

Voltei pro banheiro, e senti algo escorrer mais. Foi então que percebi que se tratava da bolsa. (não tem cheiro, definitivamente não é xixi, e como eu já tinha passado por isso, reconheci). Ok. Respirei e pensei "tá, ela tá chegando. Que dia é hoje? Primeiro de outubro, legal.". Levantei, a água continuava caindo aos poucos e fui chamar o Lipe. "Amor ..." "Hum?" "A bolsa estourou". "Sério???" Entrei logo no chuveiro e comecei a sentir uma cólica. Em 15 minutos, a cólica já era dolorida. Ligamos pra doula (e vizinha, graças ao bom Deus!) E em menos de 10 minutos ela tava lá. 

Ainda no telefone ela me disse pra irmos direto pra maternidade. (Esse não é o usual num parto natural, a intenção é sempre passar a maior parte do trabalho de parto em casa, onde ficamos mais confortáveis). Diante dessa fala dela, percebi que realmente o processo poderia ser bem rápido. Chamamos nossa amiga querida e vizinha, Tati, pra ficar com Bento que dormia. Já tínhamos combinado isso antes. Logo ela estava aqui, e eu me vestia entre uma cólica e outra. Já eram contrações, e bem próximas. Eu respirava fundo e entrava em cada onda. Em algum momento ouvi Bento chorar, e nessa hora me preocupei um pouco. Ele notou o movimento , Lipe contou pra ele que a irmã tava vindo e claro que de madrugada as percepções são diferentes. 

Foi um pouco difícil deixá-lo. Mas eu entrei no carro e entreguei. 
Eu sabia que ele estaria bem!

A ida pra maternidade foi a parte mais difícil. Contrações num carro: Não recomendo. O caminho era super curto, mas me pareceram quilômetros sem fim. 

Ao chegar lá, uns 10 minutos depois, perto das 3h da manhã, as contrações seguiam super intensas. Meu obstetra me esperava na porta, com seu sorriso-casa. Abriu os braços pra mim e seguimos para a salinha de triagem. Lá fui examinada por ele, que contava calmamente "dilatação total". Só lembro de flashs. Minha doula me segurando firme em algumas contrações, em outras me apoiava no Lipe enquanto ela massageava minhas costas. O nome disso é privilégio, eu sei. Parir sem interrupções, sem julgamentos. Estar cercada de gente que respeita o meu corpo e simplesmente não me atrapalha. Sim, nosso corpo já sabe bem o caminho. 

A dor era intensa nessa hora. A entrega também. Lembro de dizer "estou nervosa" quando senti que havia deixado de entrar numa das ondas, e esquecido de respirar fundo. Ouvi da Cátia e do Lipe "você está indo muito bem. Deixa vir. Ela já já chega". 

A sala de parto natural estava ocupada. Fomos pro único quarto vago, e ao chegarmos lá, senti que estava muito perto da linha de chegada. Reconheci a mudança do chamado "parto ativo", para o "expulsivo". Sim, um momento muito intenso, muito forte mesmo. 

A vontade de fazer força veio com tudo, e deixei meu corpo agir. Só deixei, realmente. Mesmo com dor intensa, mergulhei. Em apenas duas contrações senti minha filha chegar nos meus braços. O relógio marcava 3h32. Como ela foi rápida! Minha guerreirinha. 

Ela chorava forte, mas nem abriu os olhos. 
Eu e Lipe cantamos juntos pra ela. 
Ficamos os três ali, imersos. 

Segurar a Nina por 1h no meu colo foi incrível. Ninguém tirou ela de mim. Procedimentos desnecessários não foram feitos. Quando o cordão parou de pulsar, Lipe o cortou. Alguns minutos depois a placenta também nasceu. Tudo estava bem. Em pausa.

Tudo era presença. 
É o milagre do nascer. 
É a potência da vida. 
É o começo da existência sendo visto como realmente é: sagrado!

Fotos 📷: @leticiamaiafotografia 💛
Ps: não temos fotos do trabalho de parto em si por motivos de "não deu tempo". 😅

Paternidade em tempos de mudança

Da porta pra fora, a sociedade ainda não entendeu o papel do pai. Estimulam ele a "ajudar" como se ele não fosse parte importante do processo de cuidado. E quando a parte mais debilitante do pós-parto passa, eles acabam por julgar que já está tudo normal novamente e a "ajuda" deixou de ser necessária.

Mas eu começo perguntando quem define o normal? Porque como era antes nunca mais será e já passou da hora de todo mundo entender isso.

Para nós o processo de adaptação também é difícil, mas nós não somos ajuda - a gente "tem q" - ou ao menos é o que o mundo diz. Então ficamos e eles retomam, restando a estranheza.

De nós também sai o perigoso discurso da ajuda... na maioria das vezes mais por hábito, fato, mas palavras passam uma mensagem e é preciso ter cuidado com elas. Então antes de dizer "ele me ajuda bastante", se pergunte: é um ajudante que você espera à seu lado?

Lidando com casais ao longo dos anos, pude perceber que, na imensa e esmagadora maioria dos casos, o problema enfrentado pelos dois tem dois venenos:

De um lado a mãe sobrecarregada em suas tarefas do cuidado, muitas vezes debulhando frustração em lágrimas, quanto espera que o outro adivinhe seus pensamentos e suas expectativas sobre a participação do companheiro após o nascimento do bebê. Expectativas - o primeiro veneno. Ah, mas eu falo, peço e sempre tenho que repetir pq ele não faz nada voluntariamente... se você se pega respondendo assim, talvez tenha criado expectativas inclusive sobre que tipo de pessoa ele é.

Do outro lado o pai confortavelmente debruçado sobre àquele papel de omissão e ausência que a sociedade lhe permite e do qual ele nada fez para escapar. Zona de conforto - o segundo veneno. Ah, mas eu troco fralda, mas eu não tenho peito pra dar, mas eu dou banho... se você se pega argumentando assim, então já sabe que tá falhando - fica a dica.

Não, eu não tenho receita pronta e nem me pretendo dona da verdade - pra mim os aprendizados são provenientes do erro e da reflexão.

Mas a meu ver o duro e incrível caminho da maternidade e da paternidade deveria ser trilhado de braços dados com diálogos constantes e mútuos acordos. Profundas reflexões sobre o que um espera do outro e sobre que escolhas se pretende fazer ao longo do cuidar e educar desse novo ser que chega, mesmo antes dela ou dele chegar.

Porque acredite, as escolhas são muitas - e as divergências também serão.

Leite fraco ou pouco leite - e agora?

Praticamente todas as mães, em algum momento, se questionam se estão produzindo leite suficiente para seus bebês. E a dúvida fica maior ainda se o bebê requisita o seio mais vezes do que a mãe esperava ou se não se acalma depois de mamar.

E a impressão de que o leite é fraco ou insuficiente é frequentemente alimentada pela insegurança, tão comum desta fase, e pela falta de apoio que a maioria das mães precisa encarar. Esse combo triste tem levado muitas mulheres a complementar ou até desistir da amamentação.


Dia da Gestante por Patrícia Borde

15 de agosto foi o dia da gestante. Deixo aqui um registro do meu último dia de gestação. 

Na foto, um sábado lindo, azul, solar. Por dentro um misto de ansiedade e fascinação. Eu sabia que depois de 42 semanas e 2 dias de espera, estava bem perto de vivenciar o milagre do nascimento do amor mais profundo que eu viria a sentir. 

Esse dia durou muitas horas. Foi o desfecho de uma longa e difícil espera. 

Ter uma gestação saudável como tive não significa que tudo seja fácil e simples. Idealizar é o primeiro grande erro da maternidade e gera muitas frustrações. E não, a mulher não nasceu para ser mãe. Essa é a maior crueldade que se impõe às mulheres. 

A mulher precisa querer se tornar mãe. E isso precisa ser uma decisão de cada mulher. Uma escolha sobre sua vida e seu corpo. E quando ela aceita a empreitada da maternidade, ela vai ver o quão doloroso é. E o quão maravilhoso também. Ela aprende que existem dias bons e dias ruins, que ela não tem controle sobre tudo, que existe alguém mais importante que ela mesma que precisa tanto do seu amor e ela entende que é necessário cuidar de si e estar íntegra para partilhar o cuidado com o outro. 

O outro, um ser de luz que chega para virar sua vida pelo avesso e destruir todas as suas certezas. O outro que te ensina o poder da alteridade radical e te faz ver que o universo não gira ao redor do seu próprio umbigo, mas está sim conectado a ele por um cordão que alimenta, nutre, faz crescer e proliferar amor. 

Gestar é emprestar e dividir o seu corpo para outra pessoa poder viver. É a dor e a delícia de sentir seu coração pulsando fora do peito.