Queria engravidar desde os 15 anos. Nasci
pra ser mãe e sabia disso. Com 15 achava um pouco cedo, estava no colégio ainda
e tinha um namorado que não podia nem me ouvir falar disso (lógico!!!),
terminei o colégio - e o namoro - e entrei pra faculdade, minha vontade de ser
mãe só aumentava ao longo do tempo e estando na faculdade achava que era mais
tranquilo, mas ainda assim tinha um namorado que não topava. Terminei a
faculdade, passei pro mestrado e consegui um emprego, nada mais me impedia de
engravidar, terminei novamente um namoro e quando comecei o seguinte todos os
papos giravam em torno de casamento, filhos, vida junto. EU TINHA ACHADO O CARA
CERTO. Decidimos deixar a natureza agir no meio de 2011, achando que
engravidaríamos no começo de 2012. No mês seguinte a menstruação não veio, dois
exames - um de farmácia e um de sangue - deram negativo, ficamos frustrados...
mas numa ultra veio a confirmação. ESTAVA GRAVIDA. Eu estava vivendo o sonho da
minha vida, o momento pelo qual eu tinha esperado desde que me entendo por
mulher. A cesariana não existia pra mim, eu nem sabia quais eram as indicações,
mas achava que Deus guardava aquilo para as que não queriam parir. Eu era
saudável, eu queria, logo, eu podia.
Nunca ia imaginar a máfia que se tornou o
parto nesse país. As mentiras, as violências, as frustrações... fui descobrindo
esse mundo conforme a gravidez foi evoluindo. Troquei de obstetra três vezes.
Queria uma mulher, mas quase com 3 meses, nenhuma das indicações que eu pedia
fazia parto normal!!! Em que mundo nós vivemos? Acabei aceitando um homem,
professor do meu marido na faculdade de medicina, ele ensinava o parto como um
evento fisiológico e natural, dizia que era um parteiro e que só atuaria em
caso de necessidade, mas que na maioria dos casos acontecia de forma natural,
disse que se tudo corresse bem o meu marido podia aparar o bebe. Saí de lá
confiante.
A gravidez foi passando e em todas as
ultras meu bebe estava pélvico, mas eu nunca achei isso um problema, o meu GO
dizia pra mim que ele tinha feito muitos partos pélvicos e eu não entendia qual
era a diferença. Pélvico ou cefálico, eu ia parir de qualquer jeito.
Com 30 semanas aproximadamente eu resolvi
fazer exercícios pro meu bebe virar, já que me diziam que pélvico nascia com
mais dificuldade... eu comecei a estudar sobre isso, e pra que eu fui estudar?
Percebi que o buraco era muito mais embaixo. Li artigos dizendo que o índice de
mortalidade era igual pro parto ou pra cesárea, mas que o de morbidade era
maior no parto. Fiquei com medo. Não queria ser responsável caso algo
acontecesse ao meu filho, não queria colocar o meu sonho de parir acima do meu
filho.
Continuei com os exercícios. Com 34
semanas eu falei com o GO sobre a VCE. Ele disse que tinha feito e que poderia
fazer, mas que a experiência dele dizia que na maioria dos casos não
funcionava. Deitei na maca e ele mexeu bastante no meu bebê, a cabeça encaixada
debaixo da costela esquerda e o bumbum encaixado no osso da bacia, do lado
direito. Ele me falou que assim era mais difícil virar, que o ideal era que o
bumbum dele estivesse no meio. Falou pra eu esperar mais, que com essa idade
gestacional ainda podia virar espontaneamente. E foi nessa consulta a primeira
vez que ele falou sobre uma cesariana. Disse que se permanecesse pélvico
teríamos que repensar. Falou que fazia partos pélvicos, mas que eram mais
arriscados. Então Eu comecei a fazer acupuntura, fazia todo dia, intervalo de
dois, fazia novamente... com 36 semanas eu pedi pra fazer uma consulta com o
obstetra auxiliar, queria conhecer a equipe antes, queria comunicar ao outro
obstetra das minhas decisões - sem ocitocina, sem analgesia, bebe comigo no
primeiro instante de vida e sendo amamentado na primeira hora - (hoje eu
percebo que até o ultimo momento eu continuei como se fosse parir). Ele se
mostrou um pouco avesso às minhas ponderações, com frases como "mas pra
que isso? Você quer sentir dor? Você tem a opção de não sentir dor..." e
eu dizia "não quero sentir dor, quero ter o direito de escolher em que
momento eu vou ser anestesiada OU NÃO caso eu não ache necessário". Aproveitei
pra pedir pra ele ver a posição do bebe na barriga, pra eu conferir se a
acupuntura tinha dado certo. Qual não é minha surpresa quando ele apalpou minha
barriga e disse que SIM, O BEBE ESTAVA CEFÁLICO. Apesar de ter gostado do que
ouvi, no fundo eu achava estranho, já que eu sentia o bebe da mesma forma
sempre e achei que se ele tivesse virado com o tamanho todo que ele já tinha,
eu teria sentido... bom, de qualquer forma, eu tinha uma ultra marcada para 38
semanas (o auxiliar pediu).
Fiz a ultra, e lógico, estava pélvico
ainda. Não tinha mudado absolutamente nada. Sentado da mesma forma, na mesma
posição desde a ultra das 20 semanas!!! Fiquei triste. Meu marido perguntou se
eu queria comprar mais charutos para continuar a moxabustão, eu disse que não.
Eu tava cansada daquilo tudo, cansada dos exercícios, cansada de ficar fazendo
acupuntura toda noite, cansada da barriga, cansada das pessoas, cansada dos
grupos de apoio que me diziam para fazer um parto pélvico, cansada de mim. Fui
pra casa e chorei, chorei, chorei... não era possível, eu tinha tido uma
gravidez perfeita. Nenhuma alteração de pressão, nenhum exame de sangue
alterado, nenhuma circular de cordão, bebe perfeito, saúde perfeita, não era
possível que eu seria privada da experiência de parir. Eu não acreditava,
aquilo não era pra mim, porque eu estava sendo condenada a isso? Tantas e
tantas mulheres no mundo querendo uma cesariana e logo EU tinha sido premiada
com 3% das estatísticas??? Resolvi falar mais uma vez com meu GO sobre a VCE. E
decidi também que se algo ainda podia dar certo, era pela fé. OS exercícios e a
acupuntura não tinham adiantado, então eu decidi passar o resto da gravidez
rezando um terço por noite com o quadril elevado. Coloquei minhas esperanças na
única coisa que me restava. conversei bastante com Nossa Senhora e pedi pra ela
fazer o que fosse melhor pro meu bebe e não o que fosse melhor pra mim. Se
fosse pra eu parir, que ele virasse, se não virasse, eu ia aceitar a cesariana.
Foi uma escolha consciente. Difícil, porém consciente.
Eu fazia 38 semanas durante a semana santa
e pra completar era a virada da lua cheia. Achava que meu bebe ia nascer na
páscoa, tudo ajudava pra isso... era a lua, era o feriado católico, meus sogros
que moram em outra cidade estavam na nossa casa.. ficou todo mundo esperando...
durante essa semana eu faria outra consulta e conversaríamos novamente sobre a
VCE. Só que no meio da semana a secretária me liga dizendo que como o meu GO só
atendia em Niterói as sextas-feiras, naquela sexta - da semana santa- ele nao
atenderia e que era pra eu fazer a rotina com o auxiliar, que atendia no mesmo
consultório, na quarta. Pois bem, fui e falei com o auxiliar sobre a VCE. Ele
me disse que não fazia, que tinha feito uma vez só na faculdade e que não arriscava
fazer de novo, que era pra eu falar na semana seguinte com o meu médico.
Pois bem, eu falaria. Se não fosse um
porém... de quinta pra sexta eu perdi meu tampão. Era de madrugada e eu fiquei
com medo de não conseguir dormir... tinha lido relatos onde as contrações
começavam logo após a perda do tampão (foi assim com a minha mãe inclusive) e
pra piorar tudo SEMPRE acontecia de madrugada... mas não foi assim, eu dormi
bem, da maneira como uma gestante de quase 39 semanas pode dormir bem, né? Mas
nada de contrações. Quando acordei no dia seguinte, reclamei com meu marido de
não sentir nada e ele me alertou que minha barriga estava ficando dura. Fiquei
chateada pois não doía nada, então deviam ser contrações de BH. Alias, eu
reclamei a gestação inteira de não sentir essas contrações. A barriga ficava
dura, mas se eu não estivesse com a mão nela, eu não sentia.
Fomos tomar café da manhã e as contrações
começaram a mudar, começaram a fica doloridas, uma dor que parecia percorrer
meu corpo, como uma descarga elétrica, ainda fraca, mas muito gostosa. eu
estava tendo contrações!!!! Tomamos café e a cada contração eu avisava ao
marido, quando terminou eu percebi que elas estavam vindo a cada cinco minutos
e a intensidade ia aumentando. Ligamos pro médico pra avisar, ele pediu pra eu
descansar e ligar novamente caso algo mudasse, alguma perda de sangue, de
líquido, ou se eu sentisse muita dor, fora isso nós tínhamos uma consulta
marcada para as 16h.
As contrações ficaram doloridas, vinham
com intervalo regular... ao longo do dia esse intervalo variou entre 5 e 10
minutos e a intensidade delas variava também, mas era muito diferentes das de
BH, eu SABIA que eram contrações de verdade.
As 16h fui pra consulta, o meu GO me
examinou, estava tudo perfeito, o coração do bebe estava batendo bem, a
contração durava em tornos de 45s a um minuto. Ele falou que tinham se iniciado
os trabalhos. Que ali eu tinha que decidir o que eu queria, ele me disse que
era uma indicação de cesária, mas que ele sabia fazer o parto se fosse necessário.
Eu aceitei a indicação de cesariana. Tinha lido bastante, e tinha decidido que
não queria correr nem 1 % de risco a mais, eu já tinha ficado nos 3% que tem um
bebe pélvico a termo, não queria correr o risco de ter uma DCP. Ele me falou
ainda que eu podia fazer a cirurgia naquela noite ou se eu preferisse ele podia
me internar e eu esperaria o trabalho de parto evoluir até onde eu achasse que
estava bom, e aí no dia seguinte de manhã ele me avaliaria novamente. Eu optei
pela primeira opção, já estava cansada, já estava sentindo dor, já tinha
esperado meu filho dar o sinal dele de que estava pronto pra vir ao mundo, não
conseguia achar motivos dentro de mim pra esperar mais, eu queria ver meu
filho, queria mudar o disco, queria passar de uma gestação onde eu não tinha
conseguido parir para o meu sonho de ser mãe.
Ele falou pra eu voltar pra casa, e me
arrumar com calma e ir pra maternidade que ele me encontraria lá em duas horas.
fui pra casa, fiz a unha, cortei o cabelo do meu marido, avisei a família.
Meu bebe nasceu as 21:22 de uma
sexta-feira 13, em abril de 2012. Mamou na primeira hora, ainda no CC. Nasceu
bem, saudável, com 47cm 3080g e Apgar 9/10/10. Foi a experiência mais rica da
minha vida. Não me arrependo da minha escolha, apesar de não ter sido o que eu
sonhei. Jamais me perdoaria se não tivesse buscado fazer o melhor e naquele
momento o parto não me pareceu o melhor. Infelizmente.
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