Uma homenagem à mulher-mãe!

"E num dia de bendita magia, numa explosão de luz e flor, num parto sadio e sem dor, é capaz, bem capaz, que uma mulher da minha terra consiga parir a paz. Benditas mulheres." Rose Busko

Relato de parto da Cris, mãe da Hanna

Tanta gente me perguntando: e aí como foi?...conseguiu?...e a dor?... alguns comentários de condenação e outros de congratulação...mas pra minha surpresa, muitas expressando o desejo de ter parto normal e isso é muito bom. Durante a gravidez eu li muitos relatos de parto, e também foi bem legal ouvir experiências de outras mulheres que tiveram parto normal. Então, quis fazer meu relato de parto, como uma forma de ajudar a levantar forças por essa causa. Sempre que eu me imaginava tendo filhos, já pensava que seriam de parto normal, mesmo sabendo quase nada sobre o assunto. Depois que me informei então, aí tive a completa certeza de eu faria de tudo pra parir.

Na metade do segundo trimestre de gestação, conheci minha doula. Ela é muito experiente no assunto e também é instrutora de Yoga. Então comecei a me preparar para o parto com exercícios de Yoga, e meu marido fez o curso de preparação para o parto junto comigo. 

Eu entrei em trabalho de parto no fim das 38 semanas. Não sei precisar exatamente quando comecei os pródromos, mas naquela semana eu estava diferente, e foi numa quinta-feira que comecei a sentir umas cólicas bem fraquinhas, e logo fiquei mais atenta. Até sábado durante o dia eu não senti mais nada, mas meu corpo parecia meio preguiçoso, como se quisesse poupar energia...rs. E quando anoiteceu, bingo!!...Estava me preparando para dormir, e senti uma contração diferente, bem diferente das contrações de treinamento, de Braxton Hicks. Essas eram sempre localizadas em um quadrante ou dois da barriga, não passavam de 10 segundos, e nunca vinham acompanhadas de cólica. Mas aquela que eu senti parecia ser em toda a barriga; não sei quanto tempo durou, mas foi tempo suficiente pra eu perceber que estava diferente, e a cólica era a mesma fraquinha que eu já tinha sentido na quinta-feira. Esperei pra ver se ia ter outra, e em menos de 30 minutos senti outra vez. Falei com meu marido, e ficamos juntos tentando monitorar as contrações, que vinham mais ou menos em intervalos de 30 minutos. Sabia que estava só no começo então encontrei uma posição confortável na cama, e deixei meu marido dormir, pois sabia que precisaria dele bem acordado depois. Tirei um cochilo também. Dava para dormir numa boa, mas sinceramente, ficar sozinha nesse momento não estava fazendo muito bem pra minha cabeça. 

Era de madrugada e eu não queria incomodar ninguém, só que às 3:30h da manhã não resisti e mandei mensagem pra minha doula, que ficou me dando todo apoio, mesmo estando no hospital se recuperando de uma inflamação na vesícula. Já estava tudo pronto com as malas, então resolvi partir para o hospital quando amanhecesse. Eu já estava sentindo as contrações bem mais fortes e ritmadas pela manhã, então não tinha dúvidas em partir para o hospital. Devia ser quase 7h quando, no caminho, meu marido ligou para a obstetra avisando. Quando cheguei ao hospital, fui avaliada pelo obstetra de plantão. Eu estava com apenas 2 cm de dilatação!! Olhei bem pro médico, fiz uma cara de sofrimento e falei: você não vai me fazer voltar em casa pra ter que voltar pra cá de novo depois!!..rsrs...por alguma razão eu queria entrar logo naquele hospital...eu queria o quarto, queria o chuveiro quente, queria relaxar na minha bola, e eu queria minha doula que já estava lá! 

Tenho que abrir um parêntese aqui pra falar isso dela. Ela não mediu esforços para me ajudar nesse momento. Ela transitava entre o meu quarto e o dela, para garantir que eu estivesse bem durante o meu trabalho de parto. Sou muito grata a ela, pois a sua atuação foi imprescindível não somente para meu conforto, mas também para me orientar e me dar força para suportar as oposições provenientes de quase toda a equipe na sala de parto. 

Voltando à história, acho que a minha cara foi bem convincente, pois o médico de plantão resolveu me internar. Mas tive que ficar na emergência até liberarem o quarto. Esses foram os momentos mais difíceis, principalmente porque meu marido teve que ir até a recepção do hospital levar os documentos, e eu fiquei sozinha na emergência - Meu Deus como foi difícil ficar sozinha nestes momentos! Me lembro que quando vinha uma contração, eu virava pra parede e segurava com as duas mãos, apoiando minha testa no fluxômetro de ar comprimido..haha..era meu conforto naquela emergência. 

Depois disso meu marido esteve comigo o tempo todo e me ajudava muito; durante as contrações eu segurava nos braços e apoiava a cabeça no ombro dele. Eu não queria sentar, na verdade não conseguia, nem entre uma contração e outra, eu só queria me movimentar. No momento da contração fiquei balançando, movimentando a pelve, fazendo transferência de peso de uma perna para outra (aliás, orientação da minha doula), assim eu consegui superar o desconforto naquela sala da emergência. Até que comecei a achar que estava demorando muito aquela burocracia – acho que eu esperei quase duas horas lá – Começou a me dar um “siricutico”, dei um berro: Por que eles não liberam o quarto logo? EU QUERO SUBIR!! Nessa hora me lembro de sentir uma aflição, fui no banheiro e constatei que o tampão mucoso tinha saído. Fiquei feliz porque o processo estava evoluindo. Finalmente liberado o quarto – UFA !! 

Fui direto para o chuveiro quente, o que me deixou bem mais aliviada. Lá no quarto eu consegui me concentrar um pouco, só que meu trabalho de parto evoluiu muito rápido para uma primípara - bom, foi isso que eu ouvi de alguns na sala de parto. Acho que não estavam acreditando que minha filha iria nascer logo, principalmente a médica obstetra, que demorou bastante para dar as caras por lá. Na verdade eu estava muuito tensa, porque além da obstetra não ter chegado, meu marido não estava conseguindo contactar o pediatra. Me lembro que tentei voltar ao chuveiro mas não consegui mais ficar muito tempo lá, já estava começando a ter vontade de fazer força, os puxos estavam começando e ninguém chegava. Estávamos só eu e meu marido, e nossa bebê fazendo seu trabalho direitinho. 

Naquela hora, confesso, estava desesperada, não pelo que eu estava sentindo, mas porque não sabia como seria sem os médicos ali de prontidão. Mas hoje vejo que foi um momento muito especial pra nós; foi o momento em que meu marido me passou uma segurança que me deixou muito surpresa e feliz. Eu achava que ele ia ficar apreensivo e não iria dar conta, mas me surpreendeu com a confiança que ele passava pra mim. Nessa hora já não queria mais ficar me movimentando. Já devia ser mais de 10:30 da manhã e eu estava me “balançando” direto desde as 7h...rs. Tinha uma poltrona no quarto. Parece até instinto, quando avistei fui direto pra ela; a única posição nessa hora que me aliviou foi ajoelhar no assento daquela poltrona e debruçar no encosto. As contrações já estavam bem fortes, com os puxos, e eu não conseguia segurar aquela força. A posição era boa para minha lombar, mas os meus joelhos estavam doendo com todo o peso apoiado neles. Não podia pensar numa outra posição, não dava pra raciocinar, nem lembrava mais que sou fisioterapeuta...rsrs. Nesse momento escuto uma batida na porta do quarto, e para minha alegria era a minha doula. Ah que sensação de alívio!! Quando me viu ela imediatamente me ajudou a manter aquela postura, pois ela provavelmente percebeu que era a melhor pra mim e a que o meu corpo estava pedindo naquele momento, só que ela melhorou a posição para os meus joelhos, me apoiando sobre os travesseiros e em cima da cama. Fiquei um tempo ali (não sei quanto), e ela conseguiu um contato com o pediatra, e quando ouvi a voz dele no quarto, foi mais um alívio. Pronto, o meu parto já podia acontecer, certo? Hoje penso que sim! Hoje tenho certeza que uma gestante de baixo risco com evolução normal do trabalho de parto pode sim ter um parto normal sem a necessidade da presença de um médico obstetra. Mas na época eu não consegui desenvolver essa total confiança em mim mesma no processo do parir. Eu tive medo de que algo desse errado e não desse tempo pra reverter. Hoje, depois de ter passado por essa experiência, sei que esse negócio de “não dar tempo” é mais uma mentira assim como todas as outras que são publicadas por aí com o objetivo de colocar medo e tirar das mulheres o poder de parir. 

Até antes da chegada da médica eu era a gestante em trabalho de parto que teria o parto no quarto em posição de seis apoios, sem ocitocina, sem anestesia, sem episiotomia, sem kristeller, sem acesso venoso, e sem nada dessas coisas de doente. Depois que a médica chegou (por último, depois de 11h da manhã - mas foi até bom, porque talvez se tivesse chegado antes ela iria inventar uma cesárea, alegando qualquer asneira como: “vamos evitar a fadiga bebê-gestante-obstetra”), a partir daí eu passei a ser a gestante do parto das cavernas. 

Me fez sentir que eu estava pondo tudo em risco ficando ali no quarto, e que eu tinha que ao menos ir para o centro cirúrgico, porque se algo acontecesse, já estaríamos lá. A insegurança dela acabou comigo. Enfim, aceitei, e fui encaminhada ao centro cirúrgico, de maca! (hoje quando me lembro disso penso como deixei as coisas mudarem de rumo). Chegando lá, nada mais foi respeitado. Me mandaram deitar naquela maca horrível, na pior posição pra parir, em decúbito dorsal. Nem de cócoras pude ficar. Pedi para as enfermeiras colocarem ao menos uns travesseiros pra não ficar em cabeceira 0 grau. Escutei outro médico falando comigo dizendo que ia fazer meu parto, não entendi nada! Então ouvi minha doula entrando rápido pra dizer que eu já tinha obstetra; na hora nem consegui pensar no que poderia ter acontecido. Uma confusão. Depois fiquei sabendo que quase iam me confundindo com outra gestante que havia chegado com a bolsa rota e iria fazer cesárea. 

Depois disso comecei a ver que tinha entrado um monte de gente, eu tinha plateia (constatei isso depois, quando vi as fotos), só sei que ouvia muita gente falando, e ouvia as constantes lamúrias da obstetra. Eu já estava totalmente desconcentrada, fazia força até quando não tinha vontade, eu queria que acabasse logo aquela confusão que eles estavam fazendo. Tentei focar nas vozes das únicas pessoas humanas presentes naquela sala de parto: meu marido, minha doula e o pediatra, na tentativa de prosseguir. Já estava no expulsivo. Ouvi meu marido dizer que estava vendo um pouco da cabecinha. Sentia vontade de fazer força quando a médica tentava rasgar meu períneo com os dedos, já que eu não queria que fizesse episiotomia. Ouvi algum tipo de reclamação a respeito da minha decisão, e ouvi também que o útero é um músculo e se ele ficasse cansado, depois ele não iria contrair mais e eu teria uma hemorragia. Encorajador! 

Ganhei um acesso venoso e uma dose alta de ocitocina (que me fez ficar inchada por um bom tempo) sem meu consentimento. Depois veio uma tentativa de kristeller que não deu certo - ainda bem, porque assim pararam de fazer! E por fim a frase maldita: só o seu períneo que está segurando ela!!! 

Eu não queria episiotomia, mas aquela pressão psicológica me fez ceder. Eu disse: então corta, corta logo! Resultado da episiotomia: ela cortou, e a minha filha não desceu! Conclusão: Não era o meu períneo que a estava segurando! O problema era a pressa! A maioria dos obstetras não sabe esperar o processo fisiológico acontecer, eles querem sempre intervir de alguma forma para apressar, mesmo quando não há risco nenhum. Eu ouvi quando monitoraram a frequência cardíaca da minha filha, que estava 140bpm e chegava a 110bpm durante a contração, eu estava atenta a isso. E estava perfeito!!! Não havia sofrimento fetal pra justificar tanto pavor na atitude daqueles profissionais em querer adiantar tudo. A única justificativa é o despreparo e a falta de conhecimento que levam à insegurança destes que não sabem mais lidar com o parto normal. A minha filha estava descendo aos poucos, a cada contração, como todo processo natural do parir! 

Me lembro de ouvir o incentivo do meu marido dizendo: vamos amor, ela está pertinho, só mais uma contração e ela nasce. Minha doula chegou bem perto do meu ouvido e falou: já está chegando, pensa nos picos que você já escalou, como foi difícil a caminhada, mas você chegou lá, você conseguiu, você é forte. Ela soube onde buscar força dentro de mim. Eu havia escalado o pico da bandeira pouco antes de engravidar. Então naquela força a minha filha nasceu! Às 12:05h. A emoção de ver e sentir aquele corpinho em cima de mim desintegrou todas as emoções ruins daquela confusa sala de parto. 

O primeiro toque foi sublime. Fiquei falando com ela, enquanto o pediatra a avaliava sem atrapalhar aquela interação. Ela não ficou chorando alto, era um chorinho sem desespero, porque ela estava onde um bebê deve estar assim que nasce, no colo da mãe. Ela não foi agredida fisicamente, não foi aspirada e não foi colocada nenhuma substância em seus olhos, só o cordão umbilical foi clampeado antes de parar de pulsar, mesmo com a minha prévia solicitação de esperar, por pelo menos 3 minutos (mais uma da obstetra). Permitiram que meu marido cortasse o cordão umbilical. Tentei amamentar ainda na sala de parto, só que naquela posição em que eu estava seria bem difícil, mas pelo menos ela teve algum contato com o seio naquele momento. 

Foi meu marido que saiu com ela em seus braços para levá-la à sala de avaliação e banho (achei isso muito respeitoso), enquanto a médica já tinha tirado a minha placenta e estava me suturando. Quando cheguei no quarto, minha filha chegou logo depois. Aí sim ela mamou, acho que ainda na primeira hora, e já mamou direitinho desde a primeira vez. Ficamos juntos no quarto até irmos pra casa no dia seguinte.

Hoje posso dizer com absoluta certeza de que o natural é o melhor, mesmo nunca tendo feito uma cesárea para comparar, porque pra mim, nascimento de bebê foi feito para ser assim: cada parte de todo o processo do parto tem seu valor, tanto para o bebê quanto para a mãe. As intervenções médicas em um parto só devem acontecer se houver algum risco real. O corpo da mulher foi feito pra parir, mas muitas brasileiras parecem não saber disso, não se informam e acabam acreditando nas mentiras propagadas pela mídia. Informem-se! Mas busquem informações científicas atualizadas. E apoderem-se do seu parto, não permita que tirem de você essa experiência maravilhosa, porque parir é muito bom!

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